Reutilizar dispositivos médicos de uso único pode não representar poupança para os hospitais. Quem o diz é Mercedes Bilbao, presidente da Associação dos Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP), à margem de um seminário que está a decorrer no Porto, avança comunicado de imprensa.
“Ao ponderar a reutilização dos DM de uso único
não basta considerar o custo directo da aquisição do dispositivo médico
inicial, é preciso calcular os custos relacionados com o processo de
reprocessamento como: o transporte, limpeza, embalagem, esterilização, bem
como, os riscos potenciais inerentes ao processo em si mesmo (porque ele pode
ter falhas); a implementação de um sistema de qualidade e gestão de risco que
garanta a rastreabilidade do processo e dos respectivos DM a reutilizar. Por
outro lado, esta avaliação deve incluir a cobertura do risco de utilização de
um produto que foi concebido para ser utilizado uma única vez e os custos
indirectos que possam ser imputados ao mau funcionamento dos mesmos, à sua biocontaminação
(infecções associadas aos cuidados de saúde) ou à responsabilidade civil
resultante, já sem falar que não existem instalações para o efeito no nosso
país. Feitas as contas, os custos para os hospitais poderão ser mais elevados
do que adquirir um dispositivo médico novo”, alerta a presidente do AESOP.
Além dos custos do reprocessamento há a considerar
os riscos inerentes à reutilização do dispositivo. Se um dispositivo médico de
uso único reprocessado não estiver funcional aquando da sua reutilização ou se
se danificar, teremos também de adicionar os custos de novos dispositivos
utilizados e dos danos causados ao doente.
Até ao momento, em Portugal, não existe
regulamentação para reutilizar dispositivos médicos de uso único.
Este tema está em debate num seminário sobre
reprocessamento de dispositivos médicos promovido pela Associação Portuguesa
das Empresas de Dispositivos Médicos (APORMED) em conjunto com a Associação dos
Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses (AESOP) e a Associação Nacional de
Esterilização (ANES) no auditório Prof Alexandre Moreira do Hospital de Santo
António, Centro Hospitalar do Porto.
“O nosso objectivo é o de promover um debate
racional sobre as oportunidades, riscos e ameaças resultantes do
reprocessamento e reutilização de dispositivos médicos. Tendo em atenção as
preocupações com a redução de custos na área da saúde, tememos que algumas
instituições possam ponderar a reutilização destes dispositivos médicos sem a
adequada avaliação da sua conformidade com os requisitos essenciais legalmente
estabelecidos no sentido de garantir que essa reutilização não comporta riscos
acrescidos para a saúde dos doentes, nomeadamente por efeito de contaminação
cruzada, alterações no desempenho do equipamento e/ou outros eventos adversos”,
refere Humberto Costa, secretário-geral da APORMED.
Fonte: RCMPHARMA
Imagem: Google imagens
